segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Tempo para os outros... Tempo para si

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2006.11.19

Quem é que não se queixa de falta de tempo para resolver todos os problemas do dia-a-dia? Quem é que não gostaria de poder ajudar mais os outros e de poder participar activamente na vida da sua comunidade? Toda a gente, claro. Mas voltamos sempre à mesma questão: não há tempo. Para colmatar esta lacuna foi criado o Banco de Tempo - é um banco em tudo igual aos outros: tem agências, horário, cheques, depósitos e a particularidade de utilizar o tempo como moeda de troca.
Como funciona o Banco de Tempo? Qualquer investidor que esteja disposto a dar uma hora do seu tempo para prestar um conjunto de serviços, recebe em retribuição uma hora para utilizar em benefício próprio.
Como nasceu a ideia? O modelo de Banco de Tempo inspirou-se na filosofia dos bancos de tempo que apareceram na Itália no início da década de 90. Em Portugal, a Associação Graal começou a trabalhar neste projecto no início de 2001, depois de ter contactado com o conceito, em Barcelona, na Associação Salut Y Família que desenvolve um projecto semelhante, em Espanha. Depois de um ano dedicado à criação da infra-estrutura e ao envolvimento de instituições e pessoas, foram lançadas para as primeiras agências no início de 2002.
E quando chega aos Açores? O Banco de Tempo chega aos Açores através da Câmara Municipal de Ponta Delgada no âmbito da parceria assinada com a Associação Graal. A inauguração da Agência de Ponta Delgada ocorreu a 8 de Maio de 2002, funcionando desde então no Gabinete de Apoio ao Munícipe. A Divisão de Acção Social da Câmara Municipal é o agente dinamizador deste serviço ao dispor da população.
Quais são os objectivos? 1. Apoiar a família e a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar através da oferta de soluções práticas da organização da vida quotidiana; 2. Construir uma cultura de solidariedade e promover o sentido de comunidade, o encontro de pessoas que convivem nos mesmos espaços, a colaboração entre gerações e a construção de relações sociais mais humanas; 3. Valorizar o tempo e o cuidado dos outros, estimular os talentos e promover o reconhecimento das capacidades de cada um; 4. Promover a cooperação entre várias entidades públicas ou privadas.
E quais os princípios? 1. Todos temos algo a dar e a receber: obrigatoriedade de intercâmbio. O Banco de Tempo não é uma estrutura em que se dá sem receber em troca, nem em que se recebe sem dar nada em troca; 2. Não há troca directa de serviços: o tempo prestado por um membro é-lhe retribuído por qualquer outro membro; 3. Troca-se tempo por tempo: a unidade de valor e de troca é a hora; 4. Todas as horas têm o mesmo valor: não há serviços mais valiosos do que outros, nem escalas de valor de serviços. O serviço prestado não tem de ser igual ao recebido; 5. A circulação de dinheiro só é possível para reembolso, previamente acordado, de despesas específicas e documentadas; 6. Os serviços prestados correspondem a actividades não profissionais que se realizem com gosto: a troca assenta na boa vontade, na lógica das relações de "boa vizinhança".
Como pedir um serviço? Primeiro: contactar a agência e comunicar: serviço, data e local; segundo: a agência procura um "fornecedor e dá-lhe os contactos de quem pediu; terceiro: ambos comunicam e acertam os detalhes; e quarto: o serviço é prestado.
E que serviços podem ser oferecidos? São oferecidos actividades lúdicas: jogar, andar de bicicleta, tocar música; burocracia/secretariado; costura/lavores... Portanto, há um leque vasto de serviços que são prestados.
Cláudio Lopes, um dos responsáveis do Banco do Tempo em Ponta Delgada, na página oficial, deixou um testemunho que realço: "A solidariedade social é uma área de intervenção fundamental para a construção de uma verdadeira comunidade e o Banco de Tempo já provou, em múltiplos casos, ser um instrumento de integração social que pode, por vezes, acelerar processos de coesão, derrubando barreiras na comunicação e facilitando a interacção entre os diversos membros. É incontestavelmente uma iniciativa dirigida a todos os interessados em ajudar o próximo e a todos os que pretendam ser ajudados de alguma forma. As características das acções desenvolvidas no âmago do Banco de Tempo encontram-se relacionadas com acções solidárias e altruístas, desinteressadas de retribuições económicas, onde os seus intervenientes esperam em seu lugar retribuições de outra espécie, como a satisfação pessoal e a aprendizagem adquirida na interacção com outras pessoas. Esta iniciativa promovida em São Miguel, pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, aposta no sentido de generosidade dos seus membros, ao mesmo tempo que espera um efeito multiplicador. O campo de acção dos membros da Agência de Ponta Delgada passa inteiramente pela sua vontade e disponibilidade para desenvolver as actividades para as quais é apto, dentro do qual ele realiza acções relevantes para o seu crescimento. O objectivo geral acaba por ser o desenvolvimento social e cultural efectivo. Estes cidadãos, integrando esta iniciativa, assumem uma participação activa na sociedade e contribuem para a sua mudança".
(Fonte: http://www.graal.org.pt e http://pagpessoais.iol.pt/bancotempo/index.html )
Concluindo: ajudar o próximo não é uma utopia. O Banco do Tempo é bem real. Façamos desta iniciativa um exemplo ímpar nesta sociedade tão conturbada...

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