quarta-feira, 15 de novembro de 2006

LigaCaos

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2006.09.10

"Em tempos considerada Superliga, a principal Liga do futebol profissional em Portugal foi, há dias, reclassificada como anã pelo organismo que superintende o futebol mundial. Segundo o exemplo da medida tomada pela União Astronómica Internacional em relação a Plutão, o Presidente da FIFA, Joseph Blatter, explicou as razões que levaram à despromoção da I Liga portuguesa: "A Liga Bwin.com é demasiado insignificante para ser considerada uma verdadeira Liga no contexto europeu. Para além disso, efectua uma órbita muito instável em torno da sede da FIFA em Zurique, como demonstraram os casos "Apito Dourado" e "Mateus". Aliás, os três principais clubes portugueses já não vão jogar nesta época na Liga dos Campeões, mas estão apurados para a primeira edição da Liga do Caos da UEFA, com a Juventus e equipes amadoras europeias formadas por funcionários de tribunais civis"
(in "Inimigo Público", nº 154b de Sexta-feira 1 de Setembro de 2006, p. 5)
Nestes últimos dias muitas coisas têm acontecido no panorama futebolístico português. O excerto supracitado, num tom irónico como já é habitual no suplemento do diário Público, mostra bem como está o nosso futebol português. Tenho estado a analisar notícias de jornais, rádio, televisão, internet; conferências de imprensa e entrevistas dos protagonistas deste último caso e só uma palavra me ocorre: CAOS. Não percebo como o futebol de um país que, em quatro anos, somou um segundo lugar num Europeu e um quarto num Mundial, venceu uma Champions League e uma UEFA Cup (e por muito pouco não ganhava outra) se deixa corromper por questiúnculas jurídicas.
Toda a questão reside no facto do Gil Vicente FC ter recorrido aos tribunais civis sem respeitarem as leis da FIFA, e da FPF que preconiza no seu art. 54º.: "o clube que, em violação de jurisdição prevista nos estatutos da FPF, submeta aos tribunais, directamente ou por interposta pessoa, o julgamento de questões estritamente desportivas é punido com suspensão de uma e quatro épocas desportivas e indemnização pelos danos a que der causa, incluindo as despesas judiciais e extrajudiciais" (in "A Bola", 2006.09.02, p.4)
Todavia, em sua defesa, a direcção do Gil Vicente reiterou a sua razão alegando que recorreu aos tribunais civis somente sobre matéria de índole laboral, que não estritamente desportiva e por indicação expressa da Federação Portuguesa de Futebol. No programa "Prós e Contras" da RTP1 na passada 2ª feira, o Dr. Cruz Vilaça, advogado do clube de Barcelos, defendeu que o que move o seu cliente é somente a defesa dos seus direitos constitucionais e que não lhe pode ser imputada a responsabilidade da crise no futebol Português. Será?
Por sua vez, Cunha Leal, o demissionário director executivo da LPFP, numa de muitas e divertidas conferências de imprensa, defendeu que no regulamento de competições da Liga, no seu artigo 63.º, há uma regra que proíbe o recurso aos tribunais civis. Também, a Lei de Bases do Sistema Desportivo determina que o recurso aos tribunais deve ser feito nas instâncias desportivas e que a decisão do Conselho de Justiça da FPF constitui caso julgado desportivo.
Valentim Loureiro, o ainda Presidente da Liga, não saiu imune de culpas. Tomou deliberações com base em supostas decisões judiciais (que nem definitivas eram). A outra parte da questão era o Belenenses. Foi o clube de Belém que recorreu quando achou que o Gil Vicente havia utilizado um jogador indevidamente, facto pelo qual conseguiu permanecer na I Liga e o Beleneneses não. Mas, por suposta magia, o Leixões entrou em jogo para baralhar um caso que por si só já era confuso. Depois de deliberar, o CJ da FPF indeferiu o recurso dos de Matosinhos com o argumento de quem teria poder permanecer eram os clubes que tinham sido relegados à II Liga, ou seja, Guimarães, Rio Ave e Penafiel.
Concluindo: o futebol continua a ser controlado por interesses. Não sei se é o "Sistema" do antigo presidente do SCP, se é o "Polvo" do actual presidente do SLB. O que se sei é que vivo num país de dirigentes que se querem servir do divertimento do portugueses. Já na Roma antiga, o pão e os jogos de circo serviam para as gentes se divertirem enquanto os imperadores e suas cortes fizessem o que quisessem. Enquanto se fala de futebol não se fala dos reais problemas de todos nós. Não há quem resolva isso?

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