quarta-feira, 15 de novembro de 2006

A fraternidade entre os povos

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2006.10.08

Na profunda transformação do mundo actual rumo a uma sociedade cada vez mais multicultural e multireligiosa, com o surgimento de novos fenómenos de xenofobia e intolerância religiosa e o temido confronto de civilizações, o empenho em promover o diálogo entre as religiões a fim de que o pluralismo religioso da humanidade de divisões e guerras não seja posta em causa, é premente que a família humana se componha em fraternidade.

O diálogo fundamentado na espiritualidade da Unidade, que o Movimento dos Focolares preconiza, tem-se demonstrado particularmente fecundo. Nestas décadas de diálogo, reforçou-se a convicção de que os seguidores de outras religiões esperam dos cristãos, antes de tudo, um testemunho concreto de amor inspirado no Evangelho. Não é por acaso, que em todas as religiões, pode-se encontrar a regra de ouro "Não faça ao outro o que não gostarias que fosse feito a ti". A concretização da "regra de ouro" suscita um clima de amor (evangélico) mútuo no qual é possível estabelecer este diálogo. Exige "fazer-se um", isto é, "viver o outro". Não é um comportamento de pura benevolência, abertura e estima, mas uma prática que exige o "vazio" completo de nós mesmos, para nos tornarmos uma só coisa com o outro, para "colocar-se na pele do outro" e, também, no sentido de aceitar que ele possa ser muçulmano, hindu, budista... O efeito é duplo: ajuda-nos à inculturação e, portanto, poderemos conhecer a religião, a linguagem do outro, o que predispõe os outros à escuta.

Dessa forma, podemos passar ao "anúncio respeitoso" no qual, por lealdade para com Deus, consigo próprio e também pela sinceridade com o próximo, dizemos aquilo que a nossa fé afirma a respeito de determinado assunto, sem com isso impor nada ao outro, sem nenhuma sombra de facciosismo, mas por amor. É assim que cresce entre nós o conhecimento recíproco.

E quais são os efeitos deste diálogo? Neste espírito de unidade, o efeito do diálogo não é o sincretismo, mas a redescoberta das próprias raízes religiosas, daquilo que nos une, uma experiência viva de fraternidade: reforça-se o compromisso comum em sermos artífices de unidade e de paz, especialmente onde a violência, a intolerância racial e religiosa tentam criar um abismo entre os componentes da sociedade. Desta forma, surgem, inclusive, significativas realizações humanitárias comuns.

Como afirmou o Papa Bento XVI e diversos líderes religiosos: "Se juntos conseguirmos arrancar dos corações o sentimento de rancor, opor-nos a qualquer forma de intolerância e a toda e qualquer manifestação de violência, inibiremos a onda de fanatismo cruel que coloca em risco a vida de tantas pessoas, embaraçando o progresso da paz no mundo. É uma missão árdua, mas não impossível. Aquele que crê, sabe que pode contar, não obstante a própria fragilidade, com a força espiritual da oração" (Bento XVI, Colónia, encontro com as comunidades muçulmanas, 20 de Agosto de 2005).

Em 1977, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, em Londres, dirigiu-se à Guild Hall, quando recebeu o Prémio Templeton para "o progresso da religião". Diante de personalidades de diversas religiões, narra a sua experiência. Era imprevisível o interesse que iria suscitar entre as pessoas presentes naquela sala. A partir de então, o diálogo inter-religioso tornou-se parte integrante dos objectivos do Movimento. Desde 1994 Chiara Lubich é um dos presidentes honorários da Conferência Mundial das Religiões pela Paz (WCRP). A partir de 1997, representantes do Movimento participam das Assembleias mundiais da WCRP, de encontros e iniciativas locais.

Devido à expansão universal do Movimento, existe hoje um diálogo aberto com todas as principais religiões do mundo, não apenas com seguidores isolados ou com líderes religiosos, mas com líderes e seguidores de vastos Movimentos: o Movimento leigo budista Rissho Kosei-kai, que conta com 6 milhões de aderentes; a American Society of Muslims (EUA), com mais de 2 milhões; a Swadhyaya Family (Índia), que abraça 8 milhões de aderentes, na sua maioria hindus.

(Fonte:

http://www.focolare.org

)

Concluindo: são mais de 30 mil os seguidores de outras religiões que, naquilo que lhes é possível, vivem a espiritualidade do Movimento e com ele comprometem-se, colaborando com os seus objectivos.

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