quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A República Portuguesa

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2009.SETEMBRO.26



"O Governo Provisório da República Portuguesa saúda as forças de terra e mar, que com o Povo instituiu a República para felicidade da Pátria. Confio no patriotismo de todos. E porque a República para todos é feita, espero que os oficiais do Exército e da armada que não tomaram parte no movimento se apresentem no Quartel General, a garantir por sua honra a mais absoluta lealdade ao novo regime."
Edital da Proclamação da República, 5 de Outubro de 1910 (adaptação)
"(…) Hoje, 5 de Outubro de 1910, às onze horas da manhã foi proclamada a República em Portugal na Sala Nobre do Município de Lisboa, após ter terminado o movimento da revolução Nacional. Constituiu-se de imediato o Governo Provisório sob a Presidência do Dr. Teófilo Braga (…)"


Diário do Governo (adaptação)

Neste dia de reflexão para as eleições à Assembleia da República Portuguesa e faltando poucos dias para a comemoração do 99º aniversário da Instauração da República, apraz-me reflectir sobre a história da nossa República.
Após tentativas frustradas de revolução (a mais importante das quais foi o 31 de Janeiro de 1891) e de algumas décadas de propaganda contra o regime monárquico, o regime republicano foi instaurado em Portugal, a 5 de Outubro de 1910, por meio de uma revolução armada organizada por conspiradores militares e civis, congregados em torno do Partido Republicano e de duas organizações secretas de cariz social diferente (a Maçonaria e a Carbonária).
Os dirigentes revolucionários tinham previsto que a revolução triunfaria facilmente em Lisboa e seria depois proclamada no resto do País por telégrafo. Assim veio efectivamente a acontecer, dado que os combates, de dimensão relativamente reduzida, se circunscreveram unicamente a Lisboa (Rotunda). Durante o período da propaganda, todas as forças e personalidades republicanas encontraram facilmente um mínimo denominador comum no desiderato da abolição do regime monárquico, que rapidamente deu lugar à manifestação das divergências políticas e pessoais que estão na raiz da grande instabilidade política do regime. Esta encontra-se claramente reflectida na fragmentação partidária (não obstante a qual o Partido Democrático teve quase sempre uma notável hegemonia), no grande número de ministérios nomeados (quarenta e oito, muitos deles de duração efémera, tendo havido casos em que nem sequer tomaram posse), no facto de poucos presidentes terem cumprido o seu mandato até ao fim, nas várias situações de ditadura (a mais importante das quais, a de Sidónio Pais, de algum modo prefigura o Estado Novo salazarista).
A consolidação da República foi dificultada, não apenas pelas dissidências dentro do campo republicano, mas ainda pela pressão dos restauracionistas monárquicos, que tentaram pela força das armas retomar o poder, e pelas correntes de cariz autoritário que se iam espalhando pela Europa, com manifestações e reflexos em Portugal, e também, por outro lado, por um amplo movimento operário fortemente influenciado pelas ideias anarco-sindicalistas. Não só no plano político se manifestaram as dificuldades: a República instituiu um regime de igualdade política, nomeadamente no campo das liberdades de associação e expressão e dos direitos eleitorais, mas não realizou a igualdade social, nunca conseguindo encontrar meios para eliminar as precárias condições de vida da grande massa da população, extremamente pobre e com elevado nível de analfabetismo. Dessa dificuldade em solucionar questões sociais é claro indício a incapacidade para evitar o fluxo constante de emigrantes (para o Brasil e para os Estados Unidos, principalmente), que despovoou áreas extensas do país e teve reflexos negativos sobre a economia, nomeadamente sobre a produção agrícola. Outro factor importante, que contribuiu para agravar a situação económica e social de Portugal, foi a participação na Grande Guerra, encarada como meio de salvaguardar as colónias, que acarretou um investimento incomportável e uma considerável perda de vidas. Entretanto, a guerra, a constante instabilidade governativa, as questiúnculas entre dirigentes políticos, a agitação social, para não falar da incompetência de muitos governantes, contribuíram largamente para o descalabro das finanças públicas (aliás herdado do regime deposto). Apenas num breve período, sob a direcção de Afonso Costa, as contas públicas acusaram saldo positivo, voltando depois o País a cair na bancarrota. Todos os factores sumariamente enumerados concorreram para o descrédito das instituições parlamentares, dos partidos democráticos e dos seus dirigentes. Começaram por tal facto a avolumar-se as tendências para encontrar homens fortes capazes de pôr termo à "desordem nas ruas" (cuja responsabilidade era partilhada por todas as forças políticas em presença), ganha peso o receio do "bolchevismo" (embora o Partido Comunista, fraquíssimo, apenas se tivesse constituído em 1921). Surgem, assim, as tentativas de instauração de um regime de força, antiparlamentar e antiliberal: primeiro sob Sidónio Pais, em 1917, depois, em 1926, uma conspiração em que se unem republicanos desencantados, restauracionistas monárquicos (os da velha escola e os novos expoentes do Integralismo Lusitano) e católicos ressentidos pela perda dos seus privilégios (a radical Lei de Separação do Estado e da Igreja reduzira drasticamente a influência social da Igreja e dera mesmo lugar a manifestações agressivas de carácter persecutório), militares e civis de tendências filo-fascistas, desencadeia um golpe que apanha totalmente indefesa a República democrática e parlamentar e instaura uma Ditadura Militar que, poucos anos volvidos, dará lugar ao Estado Novo.
(FONTE: República Portuguesa. In Diciopédia 2009 [DVD-ROM]. Porto : Porto Editora, 2008. ISBN: 978-972-0-65264-5)
Concluindo: Portanto, vote! Não queira que outros decidam por si! Espero que na 2ª feira não se arrependa de não ter exercido o direito que lhe é conferido. Não deixe que os outros decidam por si!

Dia Europeu das Línguas

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2009.SETEMBRO.20

“A diversidade linguística é um desafio para a Europa, mas, na nossa opinião, é um desafio compensador”

(Amin Maalouf, Grupo de Intelectuais para o Diálogo Intercultural)


Depois de uns dias de férias, hoje volto ao vosso convívio. Esta semana vou tratar o Dia Europeu das Línguas.
Todos os anos, o dia 26 de Setembro passou a ser uma forma de juntar as pessoas, por toda a Europa, na celebração da diversidade linguística, riqueza inestimável da Humanidade. O Dia Europeu das Línguas foi criado durante o Ano Internacional das Línguas, em 2001.
A coexistência harmoniosa de muitas línguas na Europa é um símbolo claro da aspiração da União Europeia (UE) de alcançar a união na diversidade, uma das pedras angulares do projecto europeu. As línguas definem a identidade de cada pessoa, mas fazem parte igualmente de uma herança comum. Podem servir de ponte para chegar a outras pessoas e permitir o acesso a outros países e culturas, promovendo a compreensão mútua. Uma política de multilinguismo bem sucedida pode traduzir-se em novas oportunidades para os cidadãos: pode aumentar a sua empregabilidade, facilitar o acesso aos serviços e o exercício dos seus direitos, e contribuir para a solidariedade através da promoção do diálogo intercultural e da coesão social. Nesta perspectiva, a diversidade linguística pode representar uma mais-valia preciosa, sobretudo tendo em conta o mundo globalizado em que vivemos hoje.
A agenda social renovada da Comissão Europeia (CE), adoptada em 2 de Julho de 2008, adopta uma nova abordagem para gerir a mudança que caracteriza o mundo globalizado, centrando-se nos princípios-chave da criação de oportunidades, do acesso e da solidariedade. Numa UE multilingue, tal significa que: 1) todos devem ter a oportunidade de aceder a meios de comunicação apropriados, que lhes permitam realizar o seu potencial e explorar plenamente as oportunidades oferecidas por uma UE moderna e inovadora; 2) todos devem ter acesso a uma aprendizagem adequada das línguas estrangeiras ou a outros meios que promovam a comunicação, para que seja possível viver, trabalhar e comunicar na UE sem obstáculos indevidos de natureza linguística; 3) num espírito de solidariedade, mesmo aqueles que não podem aprender outras línguas devem dispor de meios de comunicação apropriados, que lhes permitam aceder ao contexto multilingue.
Os Estados-Membros são os principais decisores da política linguística, incluindo no domínio das línguas regionais e minoritárias, que tem o seu enquadramento geral na Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias do Conselho da Europa. No que respeita às línguas, muitas outras entidades tomam decisões no terreno: os agentes educativos, as autoridades regionais e locais, os parceiros sociais, os meios de comunicação social e os serviços. A CE coopera com os Estados-Membros e as partes interessadas, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, para assegurar que os objectivos são partilhados por todos, e continuará a apoiar os seus esforços, nomeadamente facilitando o intercâmbio de boas práticas. Neste contexto, a CE tem trabalhado com os Estados-Membros, desde 2002, no sentido de realizar o objectivo de Barcelona de dar aos cidadãos a possibilidade de comunicarem em duas línguas além da sua língua materna, em particular desenvolvendo um indicador para a competência linguística, definindo uma acção estratégica e formulando recomendações, e integrando as competências em línguas estrangeiras nas competências essenciais da aprendizagem ao longo da vida. Partindo dos progressos alcançados nos anos precedentes, a UE pretende conseguir uma viragem qualitativa, propondo uma política que procura ser amplamente partilhada e abrangente, e extravasar o domínio da educação, de forma a situar a aprendizagem das línguas no contexto mais vasto da agenda europeia para a coesão social e prosperidade, os dois objectivos essenciais da Estratégia de Lisboa.
(FONTE: http://cvc.institutocamoes.pt ; http://ec.europa.eu )
Concluindo: no próximo domingo, 27, somos chamados a eleger os nossos representantes à Assembleia da República Portuguesa. Dessa eleição sairá o próximo governo da República. O meu apelo vai, uma vez mais, para que vote. Não deixe que os outros decidam por si. Há quem diga “quem não vota, não conta”. Eu prefiro apelar pela responsabilidade cívica do voto na condução da nossa nação tão amada.