segunda-feira, 29 de setembro de 2008

“Caldeirada” alla Bolognesa! (II)





ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2008.09.28






O que é o Processo de Bolonha (PdB)? O PdB baseia-se na parceria entre parceiros sociais e Governos, recomenda e avalia o seu envolvimento nas reformas nacionais (e na forma de as implementar) e inclusivamente a criação de grupos de acompanhamento do PdB a nível nacional, com efectiva capacidade para propor políticas para as diferentes áreas cobertas pelo PdB. Promove, ainda, uma requalificação dos graus de ensino que altera o conceito de ciclo de estudos motivada por interesses de “competitividade” mas também pela análise dos números de abandono escolar no nível do Ensino Superior por estudantes que saiam do sistema com dois ou três anos de estudo e sem qualquer qualificação.
Num processo com a complexidade que este apresenta, seria difícil não encontrar inúmeras agendas ocultas e motivações diferentes para estar no processo e para o usar como espaço para a promoção de interesses de grupos. Mas é igualmente verdade que, desde que as vozes críticas dos estudantes e de outros parceiros foram incluídas, foi possível enquadrar um processo virado apenas para o Ensino Superior a necessidade de desenvolver a dimensão social, a educação centrada no estudante, a aprendizagem ao longo da vida, o reconhecimento da aprendizagem adquirida noutros contextos (no local de trabalho, na rua, em cursos organizados fora da universidade, etc.) para efeitos de acesso e de creditação dentro dos cursos, a mobilidade de estudantes, o reconhecimento de diplomas, a flexibilização curricular e a participação dos estudantes na avaliação (dos docentes, da instituição, das agências de avaliação, nas equipas de avaliadores de cursos e escolas, nos órgãos de governo das agências, no registo europeu de agências de garantia de qualidade, etc.).
Para Portugal, como para a esmagadora maioria dos países da Europa, os grandes desafios são ainda os mesmos. É preciso fazer a reforma dos estudos e dos ECTS mais do que um exercício formal de cortar cursos ao meio e distribuir ECTS arbitrariamente, que conduz a uma rigidez inesperada e que contraria os próprios objectivos de flexibilização curricular preconizada pelo PdB. Se é verdade que nem todas as novas licenciaturas podem dar acesso a uma profissão (sobretudo às profissões reguladas), também é verdade que podem ser estruturadas de forma a obter as competências básicas para ter um primeiro emprego e poder seguir estudos na mesma ou noutra área.

(Fonte: CARAPINHA, Bruno, Comité do Processo da European Students’ Union)

(continua)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

“Caldeirada” alla Bolognesa! (I)

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2008.09.21




Nas próximas três semanas, vou sistematizar algumas notas sobre o andamento do Processo de Bolonha (PdB), um trajecto para a criação de um Espaço Europeu de Ensino Superior. No inicio de mais um ano lectivo, eis a meu humilde contributo para uma reflexão sobre esta temática europeia.
À medida que nos aproximamos do prazo de 2010, data escolhida para terminar a criação do Espaço Europeu de Ensino Superior, fica a mais nítida a falta de qualidade das reformas que se fazem por esta Europa fora. A tendência europeia na abordagem ao PdB, por parte dos Governos, é usá-lo como fonte de legitimidade para as suas próprias prioridades, escolhendo apenas alguns dos seus aspectos ou fazendo reformas sem qualquer ligação ou contrária aos valores do processo. Bons exemplos disso, em Portugal, são: a retirada dos alunos dos órgãos de governo das escolas ou alguns efeitos perversos com a subida de propinas nos mestrados depois da reforma dos graus. Para além disso, numa corrida desenfreada por cumprir os critérios de avaliação dos progressos nacionais (que são errados por não avaliarem a situação real), os Governos concentraram-se na mera implementação formal sem sentido de graus e diplomas, sem que isso corresponda a um aumento da qualidade ou a novas formas de estruturar o Ensino Superior.
Este desvirtuamento das versões nacionais de Bolonha e o desconhecimento acerca dos propósitos e métodos do PdB entre os actores da comunidade académica têm conduzido a reacções fortes ora contra as reformas sofridas (e impostas) ora contra o PdB em si. A European Students’ Union, a federação estudantil europeia, que é o parceiro oficial para o PdB, tem vindo a denunciar as más implementações de Bolonha, fazendo uma distinção entre o que é o processo em si e o que são as práticas negativas detectadas em vários países. Os relatórios Bologna With Student Eyes (ESU –
www.esu-online.org ) revelam como as associações nacionais avaliam os desenvolvimentos de cada país.
Não deixa de ser surpreendente ver em Portugal estudantes e docentes unidos na crítica acesa a um processo que assenta muitíssimo no conceito do estudante como actor independente da sua própria aprendizagem, que começa a discutir cada vez mais pedagogia e insucesso escolar, que põe como prioridade o acesso ao Ensino Superior por sectores sociais (desde as minorias étnicas, às classes sociais mais desfavorecidas), que estabelece como norma o envolvimento dos estudantes nos processos de avaliação e garantia da qualidade e force as instituições a prestar contas sobre as suas actividades desde o topo (a liderança) à base (o docente na sala de aula). Talvez seja necessário que os estudantes façam uma distinção entre o que é o PdB definido ao nível europeu da “Bolonhesa à portuguesa”, que é o que se teve acesso nas nossas universidades.


(Fonte: CARAPINHA, Bruno, Comité do Processo da European’s Students Union)



(continua)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Imagine…

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2008.09.14




Imagine there's no heaven,
(Imagine que não exista paraíso,)
It's easy if you try,
(É fácil se tentar,)
No hell below us,
(Nenhum inferno sob nós,)
Above us only sky,
(Sobre nós apenas o firmamento,)

Imagine all the people
(Imagine todas as pessoas)
living for today...
(Vivendo pelo hoje... )
Imagine there's no countries,
(Imagine que não exista países,)
It isn’t hard to do,
(Não é difícil de fazer,)
Nothing to kill or die for,
(Nada porque matar ou porque morrer,)
No religion too,
(Nenhuma religião também.)


Imagine all the people
(Imagine todas as pessoas)
living life in peace...
(Vivendo a vida em paz...)

Imagine no possessions,
(Imagine nenhuma propriedade,)
I wonder if you can,
(Eu pergunto-me se consegue,)
No need for greed or hunger,
(Nenhuma necessidade de ganância ou fome,)
A brotherhood of men,
(Uma fraternidade de homens,)

Imagine all the people
(Imagine todas as pessoas)
Sharing all the world...
(Compartilhando o mundo todo…)
You may say I'm a dreamer,
(Talvez diga que sou um sonhador,)
but I’m not the only one,
(Mas não o único,)
I hope some day you'll join us,
(Espero que algum dia se junte a nós,)
And the world will live as one.
(E o mundo viverá como Uno.)


Hoje ouvi esta música do Beatle John Lennon. Tão actual a letra! Fiz uma tradução livre para melhor se compreender na língua de Camões.
"Que todos sejam um": não é só um sonho. «... no Teu dia, meu Deus,/irei a Ti.../e com o meu sonho mais louco:/levar-Te o mundo entre os braços»/“Pai que todos sejam um”.
Foi esta a paixão de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares (MdF), até o fim: fazer retornar a Deus ao mundo sanado de traumas, divisões e conflitos, o mundo refeito pela fraternidade, no amor, na unidade. Levar-Lhe, realizado, o sonho pelo qual Ele veio à Terra, rezou e pagou com a vida: “Pai, que todos sejam um”.
“E foi o amor a Jesus Abandonado na solidão absoluta do Calvário, para reconduzir os homens ao Pai numa dádiva de amor, incompreensível fora da lógica de Deus” – como escreveu o cardeal Coppa no L’Osservatore Romano – que a levou a “uma participação cada vez mais profunda” no Seu abandono, “no Seu ‘grito’ inaudível de moribundo, numa experiência cada vez mais global”. Chiara, a própria, olhando para a sua vida, fala de “abismos de dor” e “vértices de amor”. Para partilhar totalmente da noite que envolve hoje grande parte da humanidade e irradiar a luz “fulgurante” de Deus Amor, revelada pelo dom de um carisma, desde os anos sombrios da Segunda Guerra mundial.
(Fonte: http://johnlennon.com )
Concluindo: “Que todos sejam um!”
Por estas palavras, Chiara, consumou toda a vida.
E estas são as palavras pelas quais, eu quero consumar a minha vida.
Obrigada Chiara, pelo modo como ensinou a amar Jesus!
Obrigada, porque eu não seria quem que sou.
Obrigada ainda, porque continua a guiar-nos.
Obrigada porque, com a simplicidade tão profunda em amar a Deus em todos os Seus aspectos, transformou muitos corações.
Obrigada por todas as palavras, que continuam a ressoar no meu coração, levá-las-ei sempre comigo!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Uma nova Presidência, o mesmo Carisma

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2008.09.07

Foi eleita, em Castelgandolfo, no passado dia 7 de Julho, na Assembleia-geral do Movimento dos Focolares (MdF), quase por unanimidade. A nova presidente do MdF, Maria Voce, uma das mais estreitas colaboradoras de Chiara Lubich, fundadora e primeira presidente do MdF, tem experiência no campo ecuménico e interreligioso. O novo co-presidente é Giancarlo Faletti, até agora responsável do Movimento em Roma.
Após o falecimento de Chiara Lubich no passado dia 14 de Março, com a eleição de Maria Voce e de Giancarlo Faletti, o MdF está a viver uma nova etapa da sua história. De facto, está a realizar-se a transição de Chiara e das suas primeiras e primeiros focolarinos que deram início ao MdF e que até agora estiveram na direcção do MdF. Nas suas palavras, a nova presidente agradeceu-lhes a confiança com que eles estão a acompanhar esta transição. Declarou “contar com eles como primeiros colaboradores”.
A função da nova presidente será obviamente diferente daquela exercida por Chiara durante mais de 60 anos. Ela própria já o tinha afirmado, dizendo que “não será uma única pessoa a substituí-la”, mas “um corpo” de pessoas: o Conselho geral, juntamente com a presidente em comunhão com o co-presidente, para garantir sempre o carisma da unidade.
Maria Voce nasceu em Ajello Calabro, na Itália, em 16 de Julho de 1937. Conheceu o MdF em 1959 e há 44 anos que vive numa comunidade do Focolar. Depois de ter completado os estudos em Teologia e Direito Canónico, nestes últimos anos era responsável pela actualização dos Estatutos gerais do MdF. É uma das responsáveis de “Comunhão e Direito”, rede de profissionais e estudiosos empenhados no campo da justiça, nascida recentemente no âmbito do MdF. É também membro da Escola Abbá, Centro de Estudos interdisciplinares. Tem também uma experiência directa nos campos ecuménico e interreligioso. Tendo vivido na Turquia durante dez anos, de 1978 a 1988, teve relacionamentos estreitos com o Patriarcado ortodoxo de Constantinopla, e também com o actual Patriarca Bartolomeo I, com líderes de outras Igrejas cristãs e com o mundo muçulmano.
Giancarlo Faletti nasceu em Asti, em Itália, a 14 de Setembro de 1940, numa família simples, rica de sensibilidades sociais. O pai era operário e a mãe doméstica. Apesar de viver num ambiente não próximo da Igreja, bem depressa amadureceu nele a decisão de um forte empenho tanto no mundo juvenil como no voluntariado cristão, ao lado dos que sofrem e vivem em condições de pobreza. Aos 19 anos ficou fascinado pelo ideal da unidade dos Focolares e aos 25 decidiu dar-se e Deus no focolar. Depois de ter terminado os estudos em economia, desempenhou funções de gestão num instituto bancário. Além de Roma, foi responsável do MdF também em Génova e no Lazio, na Itália. Foi ordenado sacerdote do MdF no início da sua responsabilidade em Roma.
As primeiras votações da Assembleia-geral – composta por 496 delegados com direito a voto, dos 5 continentes – que decorreram no dia 5 Julho, tinham demonstrado a necessidade de uma pausa de reflexão e de um aprofundamento da comunhão. No dia 7, logo na primeira sessão de voto, a nova presidente foi eleita praticamente por unanimidade e o co-presidente na primeira votação com mais de dois terços dos votos, como prevêem os Estatutos.
(Fonte: http://www.focolare.org )
Concluindo: como membro do MdF há quase 20 anos, regozijo-me com a passagem serena a madura da presidência. Chiara jamais morrerá nos nossos corações. Maria Voce será uma irmã mais velha que nos aconselhará como este Movimento de Deus poderá continuar a glorificá-Lo.