sexta-feira, 26 de setembro de 2008

“Caldeirada” alla Bolognesa! (I)

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2008.09.21




Nas próximas três semanas, vou sistematizar algumas notas sobre o andamento do Processo de Bolonha (PdB), um trajecto para a criação de um Espaço Europeu de Ensino Superior. No inicio de mais um ano lectivo, eis a meu humilde contributo para uma reflexão sobre esta temática europeia.
À medida que nos aproximamos do prazo de 2010, data escolhida para terminar a criação do Espaço Europeu de Ensino Superior, fica a mais nítida a falta de qualidade das reformas que se fazem por esta Europa fora. A tendência europeia na abordagem ao PdB, por parte dos Governos, é usá-lo como fonte de legitimidade para as suas próprias prioridades, escolhendo apenas alguns dos seus aspectos ou fazendo reformas sem qualquer ligação ou contrária aos valores do processo. Bons exemplos disso, em Portugal, são: a retirada dos alunos dos órgãos de governo das escolas ou alguns efeitos perversos com a subida de propinas nos mestrados depois da reforma dos graus. Para além disso, numa corrida desenfreada por cumprir os critérios de avaliação dos progressos nacionais (que são errados por não avaliarem a situação real), os Governos concentraram-se na mera implementação formal sem sentido de graus e diplomas, sem que isso corresponda a um aumento da qualidade ou a novas formas de estruturar o Ensino Superior.
Este desvirtuamento das versões nacionais de Bolonha e o desconhecimento acerca dos propósitos e métodos do PdB entre os actores da comunidade académica têm conduzido a reacções fortes ora contra as reformas sofridas (e impostas) ora contra o PdB em si. A European Students’ Union, a federação estudantil europeia, que é o parceiro oficial para o PdB, tem vindo a denunciar as más implementações de Bolonha, fazendo uma distinção entre o que é o processo em si e o que são as práticas negativas detectadas em vários países. Os relatórios Bologna With Student Eyes (ESU –
www.esu-online.org ) revelam como as associações nacionais avaliam os desenvolvimentos de cada país.
Não deixa de ser surpreendente ver em Portugal estudantes e docentes unidos na crítica acesa a um processo que assenta muitíssimo no conceito do estudante como actor independente da sua própria aprendizagem, que começa a discutir cada vez mais pedagogia e insucesso escolar, que põe como prioridade o acesso ao Ensino Superior por sectores sociais (desde as minorias étnicas, às classes sociais mais desfavorecidas), que estabelece como norma o envolvimento dos estudantes nos processos de avaliação e garantia da qualidade e force as instituições a prestar contas sobre as suas actividades desde o topo (a liderança) à base (o docente na sala de aula). Talvez seja necessário que os estudantes façam uma distinção entre o que é o PdB definido ao nível europeu da “Bolonhesa à portuguesa”, que é o que se teve acesso nas nossas universidades.


(Fonte: CARAPINHA, Bruno, Comité do Processo da European’s Students Union)



(continua)

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