segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Idiótes

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2007.02.18

Quero começar este artigo de opinião, partilhando convosco um e-mail. Tem como título: “PORQUE É PROIBIDO O ABORTO NA URRS? O aborto é um acto inteiramente anormal e perigoso, que tem roubado não poucas vidas e tem feito murchar não poucas juventudes. O aborto é um mal terrível. Mas, na sociedade capitalista, o aborto é um mal necessário, inevitável, benfazejo até. Na sociedade capitalista um filho significa, para os trabalhadores, mais uma fonte de privações, de tristezas e de ameaças. (…) Pode-se imaginar algo mais doloroso que uma família de operários obrigados a sustentar, dos seus miseráveis salários, 5 ou 6 filhos? É a fome, o raquitismo, a tuberculose, a tristeza da vida, vivida em promiscuidade. E que futuro espera essas crianças? (…) Por isso a mulher do capitalista é obrigada a sacrificar o doce sentimento da maternidade, é obrigada a recorrer, tantas vezes com o coração sangrando, ao aborto. Por isso, a proibição do aborto, na sociedade capitalista, é uma hipocrisia e uma brutalidade. (…) A criança, na URSS, deixou de ser um motivo de preocupações, para se tornar numa fonte luminosa de alegria e de felicidade. O aborto perdeu portanto a sua única justificação; tornou-se desnecessário. Por isso, o Governo Soviético resolveu propor ao povo trabalhador, a abolição da liberdade de praticar o aborto, liberdade essa concedida a título provisório, nos primeiros tempos da República Soviética quando esta gemia sob o peso da fome e da peste, ocasionadas pela guerra e pela contra revolução capitalista. Depois de discutirem amplamente a lei proposta pelo Governo Soviético, as mulheres e todo o povo trabalhador aprovaram essa lei que correspondia inteiramente às condições de existência livre e feliz que gozam os que trabalham na grande Pátria do Socialismo triunfante”. Espantoso! Um meio de comunicação de comunistas!...

Como politólogo, fico preocupado com o nível de abstenção que se verificou neste último referendo. 56,39% dos portugueses decidiram não exprimir a sua opinião sobre a matéria referendada. Não será que é preciso repensar o uso do instrumento “referendo” (art. 115º da Constituição Portuguesa)? Há um termo que, em linguagem de senso comum, é ofensivo, mas, na acepção da antiga Grécia, era usado para descrever aqueles que se alheiam da actividade política: IDIOTA (do grego idiótes). Idiotas são todos aqueles que, em vez de se empenharem activamente na condição e na definição das suas vidas, por não quererem ou não poderem, passam para outros as tarefas, tanto na vida privada, individual, como na vida pública, colectiva.

Como cidadão responsável, apelo à objecção de consciência por parte de todos os profissionais de saúde quando forem deparados com uma situação de IVG, depois de ultrapassado o aconselhamento de Planeamento Familiar. Aliás, “o médico tem o direito de recusar a prática do acto da sua profissão quando tal prática entra em conflito com a sua consciência moral, religiosa ou humanitária ou contradiga o disposto no código”, refere-se, sobre a objecção de consciência, o artigo 30.º do Código Deontológico da Ordem dos Médicos.

(Fontes: Editorial da edição clandestina portuguesa do Jornal «Avante!» - Órgão do Partido Comunista (4ª Semana de Novembro de 1937); http://www.nao-obrigada.org/pdfs/razoes_do_nao/artigos_de_opiniao/Avante.pdf ; AMARAL, Carlos E. Pacheco, “Cidadania, Comunidade Política e Participação Democrática. Região, País e União Europeia”, in Programa Escolher a Europa, Instituto Estudos Estratégicos Internacionais, Fevereiro de 2007 ; http://www.cne.pt )

Concluindo: acho que um bom cidadão deve ser responsável por ser um bom político, que se procura afirmar como agente, co-responsável pela definição daquilo que irá fazer com a sua vida em sociedade.


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