domingo, 13 de maio de 2007

Senhor Santo Cristo: Ecce Homo

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2007.05.12

Neste fim-de-semana, na cidade de Ponta Delgada, estão a decorrer as grandes festividades em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Milhares de emigrantes vêem prestar homenagem Àquele que outrora nos defendia das “bravuras da natureza”.

Como tudo começou? No Convento da Caloura, em Água de Pau, começa a história do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Reza a tradição que foi neste lugar que se ergueu o primeiro Convento de Religiosas. Para tal foi necessário que alguém fosse a Roma impetrar a respectiva Bula Apostólica. Foram, por isso, de S. Miguel a caminho da Cidade Eterna, duas religiosas para solicitar, ao Papa, o desejado documento. O Sumo Pontífice não só lhes passou a ambicionada Bula como ainda lhes ofereceu uma Imagem do Ecce Homo. Porque o lugar era ermo e muito exposto às incursões de corsários, o pequeno Mosteiro ficou deserto, porque parte das religiosas seguiu para Santo André, em Vila Franca do Campo, e a outra parte encaminhou-se para Ponta Delgada, para o Mosteiro da Esperança.

No ano de 1700, a Ilha de S. Miguel foi abalada por fortes e repetidos terramotos. Duravam já vários dias quando a Mesa da Misericórdia e grande parte da nobreza da cidade, vendo que os terramotos não cessavam, resolveram ir à portaria do Mosteiro da Esperança para levarem em procissão a Imagem do Santo Cristo. Ao princípio da tarde deste dia 13 de Abril de 1700, juntaram-se as confrarias e comunidades religiosas. Concorreu igualmente toda a nobreza e inumerável multidão que, com viva fé, confiava se aplacaria a indignação divina com vista da santa Imagem. Caminhava já a procissão em que todos iam descalços; e logo que a veneranda Imagem se deixou ver na portaria, foi tão grande a comoção em todos que a traduziram em lágrimas e suspiros, testemunhos irrefragáveis da contrição dos corações.

Verificaram, então, que a santa Imagem não experimentara com a queda dano considerável, pois somente se observou no braço direito uma contusão. A Imagem foi lavada e limpa no Convento de Santo André e, colocada outra vez no andor com a maior segurança, continuou a procissão, na qual as lágrimas e soluços do povo aflito embargavam as preces, até que, bem de noite, se recolheu no Mosteiro da Esperança.

Amanhã realiza-se a maior procissão e maior devoção que há em terras portuguesas. No coração de cada açoriano, disperso pelo mundo, há um altar de culto eterno ao Senhor Santo Cristo, onde as suas preces mantêm permanentemente acesas místicas velas de imperecível devoção e saudade. Daí a presença de milhares de açorianos que vêm participar, todos os anos, de Portugal, dos Estados Unidos da América, do Canadá e, naturalmente, das outras ilhas, nas grandes festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, numa autêntica e profunda manifestação de fé e devoção. Semanas antes da procissão, o mosteiro da Esperança e a praça 5 de Outubro são preparados e enfeitados festivamente com milhares de lâmpadas multicores, mastros e bandeiras, flores de todas as espécies e cores que conferem ao recinto um deslumbrante ar de festa. As festas duram vários dias. Sucedem-se os serviços religiosos e os concertos. Nesta tarde de sábado, há pessoas que andam à volta da praça de joelhos sobre as pedras do pavimento ou, então, carregadas de círios de cera, num agradecimento pela graça recebida do Senhor numa hora de aflição e sofrimento. Depois, no domingo, milhares de pessoas incorporam-se na procissão. A abrir, o guião, com a coroa de espinhos dourada, depois duas longas filas de homens com opas, muitos com grossos círios votivos, outros descalços, no cumprimento de promessas, interrompidos por grupos de filarmónicas. Seguem-se associações juvenis transportando guiões de cores garridas, crianças vestidas de anjos, alunos do seminário, o clero micaelense e alguns sacerdotes convidados, todos eles a precederem a venerando imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, transportada sob um docel de veludo e ouro, num trono de lindíssimas flores de seda e pano, tecidas no século XVIII. Após a veneranda imagem, seguem-se os dignatários da Igreja Católica, representantes das congregações religiosas sediadas em S. Miguel e muitos milhares de senhoras, no cumprimento de promessas. A fechar o extenso cortejo, seguem-se as mais altas autoridades militares e civis, representações e associações sociais e desportivas. A grande procissão recolhe, já quase de noite, após cinco horas de circulação pelas principais ruas de Ponta Delgada. O corpo principal do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres é constituído pelas seguintes jóias: o Resplendor, a Coroa, o Relicário, o Ceptro e as Cordas.

(Fonte: http://www.terra-mar.org/santocristo ; http://www.acores.net/santocristo)

Concluindo: desejo que nestas festividades haja civismo. Há muito o paganismo sobrepôs-se à origem religiosa destas festividades. Envio um abraço caloroso a todos os emigrantes que nestes dias nos visitam.

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