segunda-feira, 17 de março de 2008

Cinco anos depois…

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2008.03.16
Cinco anos depois… Comecei a escrever neste matutino faz hoje meia década. Lembra-se? Vou transcrever o poema que citei:

A Guerra

Desde que a forte Humanidade
Criou nações na dura Terra,
Sempre existiu esta ansiedade,
E o mesmo grito: Guerra! Guerra!

Na minha fantasia ardente
Vejo surgir todo o Passado
A deslizar constantemente,
Como um cinema ensanguentado...

Das suas bravas penedias
- Lôbos descendo em alcateia, -
Vejo os Assírios, como harpias,
Desbaratar toda a Caldeia

E em tua volta, ninguém vive
Nações, cearas, nada medra:
Ninho de abutres, ó Ninive,
Foste arrazada, pedra a pedra!

Tambêm na mesma senda errónia,
Na mesma fúria de matar,
Coube-te a vez, ó Babilónia,
No teu festim de Baltazar!

Depois a Pérsia sobre Athenas
Que desdobrar a garra adunca,
Mas as hostis lanças helenas,
Em Marathona, dizem Nunca!

Vejo Alexandre Omnipotente
Aguia rial de outras idades,
Civilizar o velho Oriente,
Ceifando vidas e cidades.

A Síria, a Grécia, a Palestina,
Pérsia, Fenícia, o velho Egipto,
Mordem o pó na mesma sina,
Na mesma dôr, no mesmo grito!

Féreas crueis, féreas humanas,
Na dura sanha que eu maldigo,
Agora as legiões Romanas
Vão dominar o mundo antigo...


Mas pouco tarda que, do Norte,
Desça uma onda assoladora,
Que afogue em sangue, luto e morte,
A velha Roma vencedora

Na Meia-Idade ensanguentada,
A gestação, que longa insânea!
De Carlos Magno, a dura espada
Cristianizou toda a Germânia...

Sempre a matar, não passou disto,
O pensamento mais fecundo;
Lutas ferozes pelo Cristo,
Que sò prégou a paz ao mundo!

Tambêm a vez nos cabe logo,
E é contra o mouro e o judeu,
Contra o hindu, a ferro e a fogo,
Que Portugal engrandeceu...

Na casa da Áustria, Carlos V
Morre cançado, inerme, exangue;
Mas o sudário vae retinto
De ondas crueis, de ondas de sangue!

Depois, na época moderna,
Napoleão, Bismark, - a tropa... –
Sempre na lucta imensa, eterna
Ensanguentando a velha Europa.

E agora vejo um novo espêlho
Reims, Verdun, Chalous du Marne,
O’ verdadeiro Mar Vermelho,
O’ Himalaia feito em carne!

E tudo grita: Guerra! Guerra!
Manchando pó nesta ansiedade;
Quando serás, um dia, ó Terra,
Patria comum da Humanidade?!...”

E. Sanches da Gama

Há cinco anos estava a fazer um trabalho para uma disciplina da licenciatura. Hoje acho o poema tão actual! Porque será? A nossa Humanidade evoluiu? E. Sanches da Gama, há quase 92 anos atrás, escrevia sobre a guerra. Quando li este poema, de dezassete quadras, parecia que estava a ler um jornal da actualidade, não na forma do poema, mas sim no conteúdo. Não será este poema também um grito, no contexto da altura I Guerra Mundial, a favor da Paz? O poeta termina dizendo: “(...) Quando serás, um dia, ó Terra / Patria comum da Humanidade?!... (...)”
No próximo dia 20 faz meia década que eclodiu a II Ocupação ao Iraque. Muito se disse, se escreveu e se viu. E o que se conclui? Foi ilegítima a ocupação anglo-americana. No próximo mês de Novembro, temo que os votantes dos EUA não vão saber eleger o melhor presidente. Vão cair na história do vigário… Show off! Quem lidera o país não são os políticos… são os economistas e militares. A nossa Terra continuará à mercê de alguns facínoras a comandar as vidas de todos os habitantes da Terra. Basta!
As minhas palavras não podem e nem devem ser encaradas como sendo anti-americanas. Não conheço o país, e conheço algumas poucas pessoas. Mas fico revoltado quando se assumem como polícias do mundo e depois vendem armas para fazer a guerra. Onde está a lógica?
Concluo citando, uma vez mais o poeta: “(...) Quando serás, um dia, ó Terra / Patria comum da Humanidade?!... (...)”

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