segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Terra Santa: um território partilhável? (I)

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2006.12.03

No início do advento para o Natal, quero propor um desafio: sermos mais activos pela Paz. Deve estar a pensar: como posso fazer isto aqui nesta terra onde nada de mal acontece? Não há guerras, não há bombardeamentos! Mas engana-se: a verdadeira Paz é construída dentro de nós próprios e só depois é dada ao próximo. A ausência da Paz (mais conhecida como guerra) não é só, mas também, no Médio Oriente nem no sudeste asiático.
Quero falar de uma ausência de Paz. Vou fazer uma tentativa de análise sobre o conflito israelo-palestiniano. A "Terra Prometida" estende-se, aproximadamente, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão. Neste território habitam cerca de 5 milhões de judeus e de 4,5 milhões de árabes. Os judeus chamam a essa terra Israel, e por sua vez, os árabes chamam Palestina. Ambos acreditam que essa terra lhes pertence.
Que razões têm os judeus para acreditar que essa terra lhes pertence? No plano histórico: este território foi um reino hebreu onde os judeus viveram por muitos séculos. Após as revoltas contra os Romanos, de 70 a 135 d.C., a terra, Judeia, recebeu dos Romanos o nome de Palestina. No plano religioso, desde a destruição romana, que os judeus oram para voltar a essa terra. "No próximo ano em Jerusalém" é a frase com que termina cada celebração da Páscoa. Os judeus oram três vezes ao dia, voltados para Jerusalém, que é sua cidade mais sagrada. Após séculos de trágicas cruzadas e por fim, o Holocausto, a maior parte dos judeus acredita que estarão a salvo de perseguições se existir um Estado Judeu independente.
Que razões têm os árabes para acreditar que essa terra lhes pertence? No plano histórico, os povos árabes habitaram nesta terra durante séculos. A sua presença aumentou, significativamente, após a conquista muçulmana no século VII. No plano cultural, as vidas e tradições dos habitantes estão muito ligadas a esta terra, onde muitos tiveram antepassados por inúmeras gerações. Jerusalém é um centro cultural, social e religioso para a população árabe. No plano religioso, nesta urbe ficam as mesquitas de Al-Aqsa e de Omar, o 3º local mais sagrado para os muçulmanos. A tradição diz que o Profeta Maomé subiu ao Céu montado no seu lendário cavalo, Al Buraq.
Em boa verdade, acho que ambos os povos têm direito a essa terra. Ambos os direitos são amplamente reconhecidos pela comunidade internacional. Nenhum dos lados simplesmente desaparecerá amanhã: nem os 5 milhões de judeus nem os 4,5 milhões de árabes. Assim sendo, há 4 possíveis soluções para o conflito : 1) os árabes ficam com toda a terra; 2) os judeus ficam com toda a terra; 3) um Estado bi-nacional para judeus e árabes; e 4) dois Estados para dois povos. Isto é, as soluções 1 e 2 envolveriam a eliminação do outro lado pela força. Apenas um genocídio e deportação em larga escala poderia levar a tal cenário. O resultado mais provável destas soluções levava que ambos os lados iriam lutar entre si até a destruição mútua. A solução 3, o Estado bi-nacional, poderia até parecer atraente em teoria, mas seria impraticável dado o nível de tensão e ódio entre as partes. Além disso, esse tipo de solução contraria os anseios por autonomia e autodeterminação de cada um dos povos. Portanto, a única possibilidade de alcançar uma Paz duradoura seria através da existência de DOIS ESTADOS INDEPENDENTES, ISRAEL E PALESTINA, vivendo lado-a-lado com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas.
Concluindo: O que é que cada mãe e pai, sejam judeus, islâmicos, cristãos ou budistas, desejam para si? Ter e criar os seus filhos, uma casa, comida e educação. Em nada somos diferentes. Apoie a PAZ!

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