terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Terra Santa: um território partilhável? (III)

ESTE ARTIGO DE OPINIÃO SAIU NO JORNAL QUOTIDIANO DE PONTA DELGADA, DIÁRIO DOS AÇORES, NO PASSADO DIA 2006.12.17

Neste terceiro Domingo do advento, continuo a oferecer uma reflecção sobre a Paz. Há uma semana, tentei explicar porque falhou o Processo de Oslo, tentativa para restabelecer a Paz na Terra Santa. Hoje proponho caracterizar historicamente a Palestina e o Estado de Israel.
Não se pode contradizer quem afirma que neste território, e em particular na cidade de Jerusalém, concentram-se todas (ou quase todas) as divergências da humanidade. Uma análise cronológica dos acontecimentos é suficiente para testemunhar as lutas e o sofrimento daqueles povos.
Durante os reinados de David e de Salomão, a cidade de Jerusalém tornou-se o centro da vida do povo hebreu com a construção do grande Templo; no ano 70 d.C. as tropas do futuro imperador romano, Tito, provocaram a sua destruição, deixando em ruínas a chamada "Esplanada do Templo", sob a qual se encontra o "Muro das Lamentações", um dos lugares mais sagrados para a religião hebraica e, ainda hoje, alvo de orações e peregrinações, que cerca a parte ocidental da cidade. No ano 636, ocorreu a ocupação muçulmana e, em 691 foi construída, sobre a Esplanada, onde se acredita que Maomé tenha iniciado a sua viagem ao Céu, a Mesquita "da Rocha", que também é um lugar santo para os muçulmanos.
No ano de 1099, as forças cristãs, ligadas às Cruzadas, conquistam a cidade que se torna capital do Reino Cristão de Jerusalém, todavia este breve período termina em 1187 com a reconquista dos árabes. Também, os cristãos têm um lugar santo na cidade, a Basílica do Santo Sepulcro. Em 1517, a Palestina é submetida à dominação turca, assim permanecendo até que esta foi dissolvida, no final da I Guerra Mundial. Em 1922, torna-se um Protectorado da Sociedade das Nações, sob responsabilidade do Reino Unido, ansioso para substituir os turcos numa área já reconhecida como estratégica e necessária aos interesses colonialistas britânicos, para coligar as possessões egípcias (e em particular o Canal de Suez) com as possessões e explorações petrolíferas na antiga Mesopotâmia.
O nascimento, durante o século XIX, do "Irredentismo" de muitos povos e nacionalidades europeias, submetidos aos grandes impérios, leva também o povo hebreu a cultivar o sonho de possuir um Estado e um país próprios, fenómeno conhecido por "Sionismo". A dramática perseguição sofrida pelos hebreus por parte do Regime Nacional-Socialista alemão parece pôr fim a este sonho; mas no final da II Guerra Mundial, este fenómeno ganha novamente força e concentra-se mais na Palestina, onde os numerosos migrantes hebreus, provenientes dos mais variados países fortalecem-se, em relação aos muitos que se já haviam transferido durante o mandato britânico. A convivência parece não ser mais possível, e assim árabes e hebreus reivindicam Jerusalém como cidade santa própria, e capital do próprio Estado.
A Organização das Nações Unidas (ONU), que havia sido constituída há pouco tempo, foi chamada a intervir neste conflito, e colocada à prova através de uma questão verdadeiramente difícil. Em 29 de Novembro de 1947 foi votada a divisão dos 27.000 km2 da Palestina em dois Estados: 55% aos hebreus (que proclamaram o Estado de Israel no dia 14 de Maio de 1948, quando teve fim o mandato britânico) e 45% aos árabes, que imediatamente contestaram o direito dos hebreus dominar a parte de "terra" que lhes cabia. Todavia, com o decorrer dos anos, a situação modificou-se, tanto que hoje o Estado de Israel ocupa 78% do território sobre o qual habitam cerca de 5,5 milhões de judeus e 1,2 milhões de palestinianos. Em contrapartida, os territórios palestinianos ocupam 22% do território com mais de dois milhões de árabes; porém o seu território é gravemente limitado por uma marcada descontinidade, devido às numerosas ocupações hebraicas, localizadas em lugares estratégicos.

(Fonte: http://www.azionemondounito.org/home.asp ; Apontamentos Pessoais)
Concluindo: existe a esperança de que um dia todo este sofrimento chegue ao fim! Espero que, em ambas as partes, se possa amadurecer uma sociedade civil que saiba dar novamente vida a projectos políticos ambiciosos, o único caminho para levar paz e prosperidade também a esta atormentada população.

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